Quando o fim de ano chega, é
inevitável fazer um balanço do que passou. E, mais especificamente em 2012,
conquistei uma visão que me satisfez. Nós, os pós-modernos, criamos uma
afinidade com a tal da infelicidade. Acredito que, de tanto tentar se ajeitar, encontramos
uma posição em que ela não incomoda tanto, ou já temos tanto tempo de estrada
que não vale a pena voltar e começar tudo de novo. No século XXI, nada é tão
ruim ao ponto de ser largado, nem importante ao ponto de ser cuidado. Vamos
carregando na mochilinha que é a nossa alma o peso dos nossos memoriais, das
coisas que vivemos e vimos.
Para o homem moderno, a bolsa de
valores é seu depósito de confiança, enquanto relacionamentos acabam – sem que
os envolvidos sejam avisados disso – por falta de investimento. Somos dos
números, corremos atrás da estabilidade, mas adoramos um meio-termo na entrega,
no favor, na devoção. Somos péssimos matemáticos na vida: gastamos tempo para
ganhar dinheiro e ter liberdade de construir nossos sonhos... Quando o tempo
passa, continuamos na mesma gaiola emocional, com uma amargura tão grande
quanto eram os nossos sonhos inicialmente. Somos os casados solitários, os
deslumbrados pelas respostas e fãs da discordância. Alheios às regras sociais,
inimigos do papel, dos mandamentos, fundamentos, casamentos [...] Os que não
pisam no primeiro degrau de maneira nenhuma sem ver a escada inteira.
Os socializadores compulsivos, a
geração do ilimitado, que se comunica 25h por dia, fala do que faz e vive para
quem quiser ouvir, mas não cede a si mesmo a dádiva do silêncio, aquele que
esclarece tudo sem nenhuma palavra. Fugimos da crença singular sem saber que
ninguém está livre de seguir uma religião: temos, então, milhões devotos ao
trabalho, às tentativas, ao dinheiro, ao vazio e a tudo o que pode falhar
debaixo do céu.
Eis a raça humana, mãe da
tecnologia e órfã de si mesmo: uma criança assustada que passa próxima à fonte
de água viva, mas que prefere construir sua própria cisterna, que vaza água, e
como vaza. Vaza porque o dono da “peça que falta” mandou esperarem Ele, que Ele
viria. E Ele veio, mas você não estava aqui. E Ele foi embora, mas disse que
permaneceria. E se tornou difícil acreditar no que não se viu. Arrumar tempo para algo que não é palpável, como todas as nossas "conquistas". E aí temos, mas não agregamos; sofremos, mas trabalhamos; se come, se bebe e se dorme. E não se acha a Deus,
nem se procura a sua biografia, e a sede continua a mesma. O nome dessa sede é
infelicidade. E estamos plenamente adaptados a ela.
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ResponderExcluirBelíssimo texto.
ResponderExcluirÉ até triste pensar na pequenêz do ser humano em construir sua própria cisterna sem acreditar que tem muito mais para ele.
Aguardo pacientemente, trilhando meu caminho, retirando as pedras, saltando muralhas, destruindo exércitos, vencendo e sendo vencida em cada etapa que percorro mas tendo a certeza de que meu PLANO MAIOR virá e aí sim, estarei preparada competentemente para exercê-lo. É isso aí...ainda me falta competência.
Um texto audacioso, digno de quem é firme em suas certezas.
ResponderExcluirBrigada, Nando. Acho que falta tato para externalizarmos as experiências com Deus, muitas pessoas não entendem e tem até preconceito, tenho tentado encaixar o que vivo e sinto em palavras! No e-mail você tinha citado uma dúvida, se quiser colocá-la aqui, a gente conversa! :)
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